A comunicação surgiu como uma necessidade humana de compartilhar informações, inicialmente através de gestos, sons e sinais. Com o tempo, evoluiu para formas mais complexas, e, atualmente, é fundamental para a troca de ideias, fortalecimento de relações sociais e desenvolvimento geral da sociedade. Além disso, avanços tecnológicos ampliaram enormemente suas possibilidades, conectando o mundo de maneira instantânea.
Apesar de sua importância parecer óbvia, não funciona assim para todos. No âmbito político, são incontáveis os exemplos de como a má-comunicação pode ser prejudicial aos que dependem da informação. Essa é uma característica comum a figuras distintamente conhecidas no mundo contemporâneo, como Donald Trump, Boris Johnson, Vladimir Putin, Jair Bolsonaro, Lula, entre outros.
Esses são exemplos que reiteradamente demonstraram não ter sensibilidade quanto ao poder das palavras. Recentemente, o futuro presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem causado alvoroços socioeconômicos globais com suas declarações, sem sequer ainda ter assumido o posto mais importante do mundo. Ameaças protecionistas contra parceiros comerciais e militares, como o México e o Canadá (USMCA), os BRICS (principalmente a China), EU, OTAN, e seus possíveis efeitos no desenvolvimento econômico global, aumentaram consideravelmente a volatilidade.
Desde a eleição americana, o US Dollar Index (DXY) valorizou 2,50%, o S&P 500 subiu 3,75%, o Bitcoin disparou notáveis 45% com promessas pró-regulamentação e os futuros de ouro e petróleo desvalorizaram 3,50% e 7,50%, respectivamente, apenas para citar alguns exemplos.
Obviamente, esses movimentos não são integralmente alusivos a Trump, mas a correlação é alta. E, como se a irresponsabilidade não bastasse, há controvérsias, com mudanças repentinas de retórica que demonstram pouca racionalidade e muita emoção (não descartando a possibilidade de intencionalidade nessas declarações). Esse é um exemplo do poder da comunicação, e seus resultados são observáveis através de um fenômeno econômico bastante conhecido: precificação.
Os preços são um dos indicadores sociais mais poderosos quanto ao humor da população e refletem percepções expressas em valores monetários. Eles são o termômetro da sociedade quanto a suas crenças e, geralmente, são observáveis em um “local” em que operam as forças da oferta e demanda: o “mercado” — muitas vezes definido como entidade intangível, porém formado por relações entre governos, instituições públicas, privadas e sociedades, todos representados, na prática, por seres humanos imperfeitos.
Para a maioria dos ativos financeiros, o fator “expectativa” é determinante da sua cotação e, no Brasil, o que não nos falta são exemplos de frustração quanto a expectativas.
Há pouco, o real brasileiro (BRL) atingiu o maior nível histórico de depreciação contra o dólar americano (USD), ultrapassando a barreira dos USD/BRL 6,00 e, aparentemente, criando um novo patamar para a taxa de câmbio. É importante ressaltar que as expectativas que precificam as taxas de câmbio à vista (spot) são formadas hoje e repassadas em cadeia para as taxas futuras (forward). Em outras palavras, profecias mal proferidas no presente se autorrealizam no futuro.
Esse é um dos principais desacertos do terceiro governo Lula, que mesmo quando possui notícias otimistas, apresenta dificuldades evidentes em comunicá-las. O presidente é conhecido por sua personalidade convicta e alta capacidade de comunicação com a grande massa populacional, com discursos nacional e internacionalmente marcantes.
No entanto, a comunicação tem sido um grande problema para seu atual governo. Neste ano, por exemplo, Lula atacou repetidamente a gestão independente do Banco Central, provocando atritos com o presidente Roberto Campos Neto e, por diversas vezes, expôs publicamente situações que colocaram em xeque a credibilidade do ministro Fernando Haddad, demonstrando desalinhamento interno e afetando negativamente as expectativas. Será que não há maneiras mais inteligentemente diplomáticas de governar do que atacar abertamente pessoas e instituições, aumentando a incerteza, desconfiança e desequilíbrio entre os stakeholders do governo?
Recentemente, após intensa espera pelo plano de ajustes fiscais, a decisão governamental foi de anunciar o pacote em conjunto com a possível isenção do IR para salários de até R$5 mil, algo já prometido (e, portanto, precificado) em campanha. Ou seja, após toda a ansiedade gerada pela demora no anúncio do corte de despesas, o governo evidenciou um projeto de redução de receitas. Resultado? O pacote, que não era ruim, se tornou péssimo ao olhar daqueles que o aguardavam e aprofundou a desancoragem das expectativas de austeridade fiscal do governo.
Portanto, todos aqueles que desconhecem o poder da comunicação, uma das ferramentas mais poderosas já inventadas pela humanidade, sofrem as consequências, pois assim como qualquer outra, tem sua funcionalidade dependente da sagacidade do usuário. Além de transfigurar o mundo, penaliza aqueles incapazes de entender a motivação de sua existência. A comunicação tem o poder de transformar efeitos desejados em indesejados.
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